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10/12/2024
1 Timóteo 6:6
6 Mas é grande ganho a piedade com contentamento. (ARC)
1 Coríntios 10:1-6
1 Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem; e todos passaram pelo mar,
2 e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar,
3 e todos comeram de um mesmo manjar espiritual,
4 e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo.
5 Mas Deus não se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto.
6 E essas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. (ARC)
Olá, irmãos(ãs), paz do Senhor.
Nesta oportunidade iremos refletir sobre o décimo e último mandamento da Lei do Senhor.
O décimo mandamento é “Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo.” (Êxodo 20.17). Este mandamento enfatiza a importância de não ter desejos invejosos em relação aos bens e à vida dos outros. É como que um complemento do nono, que se refere à concupiscência da carne. Ele proíbe a cobiça dos bens dos outros, que é a causa de roubos, corrupção, fraudes, discórdias, brigas e até mortes.
Em outras palavras, o último mandamento expõe a batalha interior contra desejos inadequados que, se cultivados, afetam negativamente o vínculo com o Criador e o próximo. Superar essa luta exige honestidade consigo mesmo, reconhecendo esses impulsos e buscando auxílio na fé e na força espiritual. A chave é cultivar a satisfação com as bênçãos recebidas, monitorando nossos objetivos e motivações. Lembrar da nossa dependência divina nos guia para uma vida de gratidão, afastando a inveja e a insatisfação. A verdadeira liberdade surge na aceitação do que nos é dado, construindo relações positivas e uma existência alinhada com a vontade de Deus.
O décimo mandamento, ao proibir a cobiça, visa inibir não apenas o desejo por bens materiais, mas também por qualquer coisa que pertença ao próximo, incluindo relações pessoais (como a cobiça por um cônjuge alheio), empregados, animais, etc. Sua função principal é promover a ética e a moralidade, incentivando a satisfação pessoal e desencorajando a inveja e ações prejudiciais decorrentes do desejo possessivo. Ao abordar a cobiça de forma abrangente, o mandamento busca harmonia social, evitando a rivalidade e a violência geradas por esse sentimento, promovendo, assim, uma vida mais equilibrada e cooperativa, onde o respeito e a gratidão prevalecem sobre a competição destrutiva.
A Profundidade do Décimo Mandamento: Do Ato ao Desejo
Enquanto o sétimo mandamento proíbe o adultério, abordando o ato externo, o décimo mandamento vai mais fundo, tratando das intenções e desejos que precedem as ações pecaminosas. Ele não se limita a vetar comportamentos visíveis, mas revela o caráter interno do pecado, que se origina no coração e se manifesta nos pensamentos e aspirações desordenadas. Essa profundidade destaca que Deus não está apenas preocupado com nossas ações, mas também com a pureza de nosso coração. Em Gênesis 3.6, vemos como Eva foi seduzida pelo desejo ao perceber que o fruto era “bom para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento”. Isso reflete a tríplice dimensão da tentação: os anseios da carne, a atração dos olhos e o orgulho de possuir algo que exalta o ego, mencionada em 1 João 2.16. O mandamento, portanto, confronta essas inclinações, chamando o ser humano a resistir não apenas ao ato, mas à semente do pecado.
A Cobiça em Suas Múltiplas Formas
O décimo mandamento abrange uma vasta gama de pecados que nascem do desejo desordenado. A concupiscência da carne, como exemplificado pelo bispo Samuel Ferreira, inclui a sensualidade e a luxúria, levando o indivíduo a buscar satisfação egoísta e momentânea. A concupiscência dos olhos se manifesta no desejo por posses que não lhe pertencem, como riqueza, status ou coisas materiais. A soberba da vida, por sua vez, reflete a obsessão pelo poder e pela exaltação própria, traduzida em orgulho e ostentação. Esses elementos podem ser vistos em episódios bíblicos, como a história de Acã (Js 7.20-21), que cobiçou os bens de Jericó e trouxe destruição sobre si e sua família. Comentando sobre esses aspectos, Agostinho, em Confissões (Editora Paulus, 2011), observa que a cobiça é uma deformação do desejo, onde o homem busca preencher o vazio de sua alma com aquilo que pertence a outro, afastando-se de Deus como sua verdadeira fonte de contentamento.
A Origem e o Avanço do Mal no Interior do Ser Humano
Desde a queda do homem, descrita em Gênesis 3, a cobiça tem sido um mal persistente, infectando todas as áreas da vida. Jesus enfatizou em Marcos 7.21-23 que os pecados surgem “de dentro, do coração dos homens”, incluindo “a avareza, a maldade, a inveja e a arrogância”. Essa declaração revela que o pecado é mais do que uma transgressão externa; ele é uma corrupção interna que precisa ser confrontada na raiz. A cultura antiga via a cobiça como uma ameaça à estabilidade social, especialmente em contextos agrícolas e tribais, onde a ambição desenfreada por posses poderia desestruturar famílias inteiras. Hoje, essa mesma cobiça se manifesta em formas modernas, como consumismo excessivo e a busca incessante por status social, demonstrando que a essência do pecado permanece a mesma.
A Solução: Transformação Pelo Espírito Santo e Pela Palavra
A única forma de combater a cobiça é por meio de uma mudança interior, que começa com o poder regenerador da Palavra de Deus e do Espírito Santo. Em Hebreus 4.12, lemos que “a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes”, penetrando até o âmago do ser humano para discernir pensamentos e intenções. Essa transformação exige que nos rendamos diariamente à ação do Espírito, que produz em nós frutos como domínio próprio e contentamento (Gl 5.22-23). Além disso, precisamos aprender a encontrar satisfação na providência divina, como Paulo ensina em Colossenses 5.18, “em tudo dai graças,”. A luta contra a cobiça não é uma batalha fácil, mas é um chamado à santidade e à submissão a Deus, que nos convida a viver em liberdade e plenitude ao depender inteiramente Dele.
A Amplitude do Conceito de “Casa” no Décimo Mandamento
A expressão “Não cobiçarás a casa do teu próximo” (Êxodo 20:17a) transcende a ideia de estrutura física e abrange tudo o que pertence ao próximo, incluindo seus bens, recursos e meios de subsistência. No contexto bíblico, o termo “casa” incorpora tudo aquilo que sustenta a vida e a dignidade de uma pessoa em sua totalidade. Isso é significativo porque reflete a visão holística da sociedade hebraica, onde as posses de uma pessoa eram vistas como extensões de sua identidade e instrumentos para o cumprimento de seu papel na comunidade. Por exemplo, o campo, os animais e os utensílios de trabalho de um homem eram essenciais para sua sobrevivência e, por extensão, para o bem-estar de sua família. A cobiça por qualquer desses elementos é um ataque à segurança e dignidade de seu próximo, o que viola não apenas a relação interpessoal, mas também a relação com Deus, que é o provedor supremo de todas as coisas (Sl 24:1).
A Dinâmica Progressiva do Mandamento em Deuteronômio
Em Deuteronômio 5:21, a sequência do mandamento é ajustada, colocando a cobiça pela mulher do próximo antes da cobiça pela casa. Isso reflete um avanço no pensamento social e teológico sobre a dignidade e a centralidade da mulher no contexto familiar. No mundo antigo, a mulher era muitas vezes considerada uma extensão da propriedade do homem. No entanto, esse texto sugere uma valorização progressiva da mulher como mais do que uma posse material. Ela é apresentada como uma prioridade maior na lista de tudo aquilo que não devem ser cobiçadas, sublinhando sua importância singular na vida do próximo. Essa mudança também pode ser vista como um reflexo da obra de Deus no coração humano, chamando-nos a respeitar a ordem divina nas relações interpessoais e reconhecer a santidade das instituições criadas por Ele, como o casamento (Gn 2:24).
A Cobiça Como Obstáculo Espiritual
A cobiça é descrita como um obstáculo profundo que reside no coração humano, onde apenas Deus é testemunha. Essa afirmação destaca o caráter interno e invisível do pecado, que muitas vezes passa despercebido aos olhos dos homens, mas não a Deus (Jr 17:9-10). Jesus abordou essa questão de forma contundente em Lucas 12:15, alertando contra a avareza e enfatizando que a vida de uma pessoa não consiste na abundância de seus bens. A cobiça, portanto, é uma batalha espiritual que exige vigilância constante e uma dependência diária do Espírito Santo para moldar nossos desejos. Como o apóstolo Paulo escreve em 1 Coríntios 13:4, o amor verdadeiro “não se vangloria, não se ensoberbece e não busca seus próprios interesses”, contrastando diretamente com a essência egoísta da cobiça.
A Transformação do Coração Pela Graça Divina
A libertação da cobiça só é possível por meio da transformação do coração operada pela Palavra de Deus e pelo Espírito Santo. Mateus 6:24 nos lembra que não podemos servir a dois senhores; ou amamos a Deus ou somos dominados pela obsessão pelas riquezas. O décimo mandamento chama cada crente a uma introspecção sincera, confrontando suas motivações mais profundas e alinhando seus desejos à vontade de Deus. Em sua obra The Ten Commandments (P&R Publishing, 2010), Kevin DeYoung observa que a verdadeira liberdade do pecado começa quando reconhecemos que Deus é suficiente para atender a todas as nossas necessidades. Esse princípio desafia os cristãos a buscar contentamento em Deus, reconhecendo que Ele é a fonte última de toda provisão e satisfação (Fp 4:19).
Etimologia de “Corrosão” e sua relação com a cobiça
A palavra “corrosão” deriva do latim “corrodere”, que significa “roer” ou “destruir gradualmente”. No contexto da cobiça, a corrosão representa a lenta e insidiosa destruição da alma humana causada pela insatisfação e pelo desejo incessante de possuir o que pertence aos outros. A cobiça não é uma simples vontade de ter mais, mas um processo que gradualmente consome a paz interior, a gratidão e a satisfação pessoal, corroendo a capacidade de apreciar o que já se possui. Assim como um ácido corrói um metal, a cobiça “rói” a alma, deixando um vazio existencial que nenhuma posse material consegue preencher. Portanto, o desejo descontrolado de ter o que os outros têm nunca será capaz de completar o vazio existencial do ser humano, e, portanto, a “cobiça” corrompe profundamente o indivíduo, levando-o a uma busca infrutífera por felicidade.
Análise da Cobiça como Desejo Irreprimível
A cobiça, como desejo irreprimível de ser como os outros ou possuir o que eles têm, representa uma profunda insatisfação com a própria realidade. Não se trata apenas de ambição, mas de uma busca incessante por validação externa, por uma identidade construída sobre a posse e a comparação com os demais. Essa busca incessante é fútil, pois a felicidade verdadeira não reside na aquisição material ou no sucesso social, mas na aceitação de si mesmo e no desenvolvimento de um propósito de vida autêntico. A promessa de felicidade que a cobiça oferece é ilusória, uma miragem que leva à frustração e ao sofrimento. A busca por status e bens materiais, em detrimento de valores intrínsecos, demonstra uma profunda insegurança e uma falta de propósito. Como escreve o teólogo João Calvino em Institutas da Religião Cristã (Ed. Hagnos, 2016), a cobiça é uma idolatria que transforma bens temporários em fins últimos, criando uma dependência de coisas que não podem oferecer satisfação eterna. A felicidade, portanto, não se compra, e a cobiça revela o vazio que existe quando essa verdade é negligenciada.
A Insatisfação Humana na Busca por Bens Materiais
O texto aponta que, apesar do aparente aumento de riqueza e conforto material nas sociedades contemporâneas, a insatisfação continua a ser um problema crescente. As consultas a psicólogos, psiquiatras e neurologistas indicam que, mesmo em países ricos, o problema não é a falta de bens materiais, mas a falta de propósito e realização pessoal. Essa insatisfação é o reflexo de um vazio existencial que não pode ser preenchido por conquistas temporárias ou pelo acúmulo de riquezas. Jesus, em Lucas 12:15, adverte que a vida não consiste na abundância de bens. O homem rico, apesar de sua riqueza material, estava espiritualmente pobre, focado apenas na acumulação e na segurança material, sem considerar as dimensões mais profundas da vida. Comentando sobre este versículo, John Stott, em seu livro Comentário Bíblico de Mateus, (Editora Vida, 2000) afirma que a verdadeira riqueza reside na espiritualidade, e a falta dessa riqueza causa uma insaciabilidade que nenhuma posse material pode satisfazer. Tal insaciabilidade é a própria definição da cobiça, que aflige a alma, comprometendo sua saúde e bem-estar. A busca incessante por status e posses apenas leva à frustração, pois o ser humano foi criado para algo muito mais profundo e eterno do que a busca por satisfação mundana.
O Vazio Existencial e o “Ser” Pessoal
Enriquecendo um pouco mais do que já foi dito acima, o problema da cobiça vai além da busca por bens materiais; ele atinge o núcleo do ser humano, sua identidade e propósito existencial. A busca por coisas externas, como status ou poder, só agrava o vazio interno que a pessoa sente. O ser humano foi criado à imagem de Deus, e sua verdadeira satisfação e realização só podem ser encontradas em um relacionamento com Ele. Como diz o apóstolo Paulo em Filipenses 4:12-13, ele aprendeu a ser contente em todas as circunstâncias, reconhecendo que a verdadeira fonte de força e satisfação vem de Deus, não das circunstâncias externas. A cobiça, então, é um reflexo de um desejo mal direcionado, um desejo de preencher um vazio que só pode ser preenchido pelo Criador. A busca incessante por satisfazer o ego e as necessidades externas sem considerar o “ser” interior leva a um ciclo de frustração e insatisfação contínuos. O pensador C.S. Lewis, em Mere Christianity (HarperOne, 2001), argumenta que o desejo humano por algo além deste mundo é uma prova de que a verdadeira felicidade só pode ser encontrada em Deus, e não nas coisas que a terra oferece.
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Equipe EBD Comentada
Postado por ebd-comentada
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