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Betel Adultos – 2º Trimestre de 2017 – 23/04/2017 – Lição 4: Jeremias: Suas crises e solidão

19/04/2017

Este post é assinado por: Cláudio Roberto

TEXTO ÁUREO

Jeremias 1:18
18 Porque eis que te ponho hoje por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra, e contra os reis de Judá, e contra os seus príncipes, e contra os seus sacerdotes, e contra o povo da terra. (ARC)

TEXTOS DE REFERÊNCIAS

Jeremias 12:1-3
1 Justo serias, ó SENHOR, ainda que eu entrasse contigo num pleito; contudo, falarei contigo dos teus juízos. Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que cometem o mal aleivosamente?
2 Plantaste-os, e eles arraigaram-se; avançam, dão também fruto; chegado estás à sua boca, mas longe do seu coração.
3 Mas tu, ó SENHOR, me conheces, tu me vês e provas o meu coração para contigo; impele-os como a ovelhas para o matadouro e prepara-os para o dia da matança. (ARC)

INTRODUÇÃO

Poderia um piedoso servo de Deus padecer de crise existencial a ponto de experimentar o isolamento e até desejar não ter nascido?

A vida de Jeremias desmistifica a áurea de super servos. Ao enfrentar adversidades tão intensas, o profeta revela sentimentos tão internos que chegam a ser inacreditáveis.

Vamos aprender com Jeremias, que o sofrimento da alma é pior que o sofrimento do corpo. Que o abatimento espiritual pode produzir sentimentos desgostosos, porém, não obstante, os mesmos não serão suficientes para afastar-nos da presença de Deus ou anular o Seu terno cuidado.

A confiança que Jeremias possuía em Deus prevaleceu contra a tormenta produzida a sua volta.

1 – VOCAÇÃO: UM CONVITE PARA SERVIR

Neste ponto é importante frisar que existe a vocação e a chamada e que ambas se distinguem.
Enquanto a vocação é a capacitação (dons, talentos, recursos) dada por Deus para o exercício de uma determinada obra, a chamada é a indicação do tempo de Deus para o exercício desta obra.

Romanos 11:29
29 Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. (ARC)

Pastor Levy Ferreira, presidente da Assembleia de Deus em Limeira – SP, afirma que a vocação ministerial é dada por Deus, tendo em vista que é uma disposição da alma e do espírito da pessoa para desenvolver uma atividade na obra do Senhor. Assim, Deus elege seu servo e o vocaciona para fazer a sua obra aqui na terra, exatamente na posição e função que entende ser necessário para o que convém para o seu reino terreno.
A vocação concedida por Deus é irrevogável, ou seja, sem arrependimentos.

Jeremias recebeu o doce convite para participar da obra de Deus nesta terra ainda bem cedo e o sinal de que ele teria os dotes necessários para desempenhar tal função se encontra em Jr 1.9.

Jeremias 1:9
9 E estendeu o SENHOR a mão, tocou-me na boca e disse-me o SENHOR: Eis que ponho as minhas palavras na tua boca. (ARC)

A expressão utilizada por Deus no texto: “Eis que ponho as minhas palavras na tua boca” é suficientemente esclarecedora. Deus estava vocacionando Jeremias para falar por Ele. Jeremias a partir daquele instante estava sendo posto como profeta de Deus em Judá.

A palavra de Deus em nós e o ponto de partida para qualquer vocação ministerial.

É necessário compreender claramente a nossa vocação para que possamos desempenhar a tarefa incumbida exatamente dentro da vontade divina. Nossos interesses ou vaidades pessoais não podem prevalecer diante dos projetos de Deus para nossa vida e ministério, porque Ele é o dono tanto da obra como de nossas vidas.

Romanos 15:1
1 Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. (ARC)

A nossa vocação deve conter um forte caráter de serviço, ou seja, o servo do Senhor e vocacionado por Ele, deve necessariamente servir aos seus irmãos. Quanto maior a responsabilidade no reino de Deus, maior servidor deverá ser. A escada do crescimento ministerial tem o sentido para baixo, como se estivesse adentrando um porão (descendo) e não para cima, como muitos pensam.

Gálatas 5:13
13 Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor. (ARC)

1.1 – O perigo de ser mal compreendido

Jeremias estava imbuído de uma mensagem violentamente dura. Não havia como flori-la ou encantá-la. Deus estava determinado a executar a sua sentença sobre Judá e escolheu Jeremias para comunicar o juízo.

Jeremias 2:12-13
12 Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai verdadeiramente desolados, diz o SENHOR.
13 Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas. (ARC)

Mensagens desta natureza dificilmente terá uma “aterrizagem” suave nos corações dos homens, antes os ouvintes se sentem insultados e reagem negativamente.
Sempre que a mensagem não for popular ou apontar o erro daqueles que estão em eminência, sofreremos o agravo e eles não compreenderam a palavra, antes a sua reação será de indiferença ou menosprezo. Por certo haverá uma confrontação.

O desdém e a afronta de Judá aqui, não era primeiramente com a pessoa de Jeremias (instrumento de Deus), mas para com o próprio Deus, pois Jeremias era a sua representação diante do povo. Afrontar a palavra dita por Jeremias, era afrontar a palavra que Deus havia dado a ele, logo, era afrontar o próprio Deus.

Jeremias 1:18-19
18 Porque eis que te ponho hoje por cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra, e contra os reis de Judá, e contra os seus príncipes, e contra os seus sacerdotes, e contra o povo da terra.
19 E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo, diz o SENHOR, para te livrar. (ARC)

Este é exatamente o ponto em que Deus se põe como nosso ajudador e juiz. Quando a palavra de Deus está em nós, mas somos politicamente inferiores àqueles que se colocam como nossos inimigos.
A fidelidade de Deus se prontifica em defender-nos e atuar como um poderoso escudo de proteção. Mais que isso, Deus nos garante forças suficientes para continuarmos o enfrentamento.

1.2 – Vivendo entre inimigos

Jeremias não começou a entregar as mensagens do Senhor a um grupo social que não conhecia, ao contrário, Jeremias começou a pregar contra os pecados de Judá em meio a um povo que o vira crescer em Anatote, sabiam que ele era filho do sacerdote Hilquias. Jeremias estava familiarizado com os seus primeiros ouvintes.

Jeremias 11:21
21 Portanto, assim diz o SENHOR acerca dos homens de Anatote, que procuram a tua morte, dizendo: Não profetizes no nome do SENHOR, para que não morras às nossas mãos. (ARC)

A sua mensagem provocou uma fúria tão exagerada que eles o ameaçavam de morte. Talvez o bom conselho seria que para Jeremias, era melhor ficar calado e preservar a sua vida do que continuar a profetizar e acabar morto, no entanto, a história se desenrolou de tal forma que Jeremias profetizava e Deus o livrava das mãos dos seus inimigos. Que convicção e coragem tinha este homem!

Vivemos um surto de mensagens politicamente corretas. Homens que preferem o silêncio da conivência do erro do que manifestá-lo. Preferem os benefícios que o cargo ou posição lhe constitui do que falar a verdade e ter o ministério tolhido.

Elias foi taxado pelo rei Acabe de “perturbador de Israel” por trazer uma mensagem de concerto e correção (I Re 18.17);

João Batista teve a cabeça exibida em uma bandeja, por condenar o pecado de incesto de Herodes Antipas (Mc 6.17,18,28);

Jesus foi entregue pelo Sinédrio, representado pelo sumo sacerdote Caifás a Pôncio Pilatos para ser morto (Jo 19.11);

Estevão foi apedrejado até a morte pelos opositores da Palavra de Deus (At 6.8-15);

Se naquela época o método usado para calar um profeta ou um servo de Deus era matando-o ou buscando a sua morte, hoje, se resolve anulando o profeta, silenciando-o através de proibições deliberadas em conselhos de homens inescrupulosos e que já perderam a direção e a presença do Espírito Santo a tempos. Hoje, a perseguição não é escancarada, mas é astuciosa e sutil. O profeta vai aos poucos sendo descaracterizado como tal pelos seus algozes e perfilado junto aos rebeldes até não ter mais crédito entre os seus.
Assim conseguem o seu intento; de profeta vai para o status de rebelde (estamos falando aqui de verdadeiros profetas).

Mateus 5:10-12
10 bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus;
11 bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.
12 Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. (ARC)

1 Pedro 4:12-14
12 Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós, para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse;
13 mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.
14 Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus. (ARC)

Jeremias toma a decisão de permanecer fiel ao Senhor e a sua mensagem, mesmo que os seus inimigos estivessem respirando ameaças de morte contra ele. 
Mesmo que todos estejam contra a sua vida, o Senhor estará ao seu lado, garantindo proteção e segurança até que a sua obra esteja completa; e se importar morrer pela causa do reino, esteja preparado, pois outros já morreram também.

1.3 – Amigos inimigos

Repito neste artigo que em minha modesta opinião, Jeremias talvez tenha sido o homem na história bíblica que mais tenha sofrido fisicamente, moralmente e psicologicamente. O sofrimento de Jeremias foi intenso e contínuo.

O pior inimigo para ser combatido, não é aquele que o reconhecemos como tal, mas o que se apresenta como amigo.

Salmos 55:12-14
12 Pois não era um inimigo que me afrontava; então, eu o teria suportado; nem era o que me aborrecia que se engrandecia contra mim, porque dele me teria escondido,
13 mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo.
14 Praticávamos juntos suavemente, e íamos com a multidão à Casa de Deus. (ARC)

Matthew Henry comenta que o salmista Davi, reclama de um dos chefes da conspiração que agiu insistentemente para fermentar ciúmes, inventar mentiras acerca do rei e de seu governo, mobilizando os súditos, ou seja, o povo de Israel, contra ele. (Grifo meu).

Este seria o motivo da dor que Davi estava experimentando, pois não se tratava de um inimigo comum que se levantava contra ele, mas alguém que lhe era confiável, confidente e amigo de sua intimidade. Alguém que frequentava os cultos e adorava ao Senhor com ele.
Davi saberia o que e como fazer quando o inimigo é conhecido, mas quando o inimigo é “amigo”, a decepção é inevitável.

Salmos 55:16-17
16 Mas eu invocarei a Deus, e o SENHOR me salvará.
17 De tarde, e de manhã, e ao meio-dia, orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz. (ARC)

Nestes casos, a única alternativa é entregarmos a Deus, confiarmos e aguardarmos Nele.

O comentarista relaciona três exemplos de personagens da Bíblia que viveram experiências parecidas:

José foi perseguido e maltratado pelos seus irmãos a ponto de ser vendido como escravo e dado como morto ao seu pai (Gn 37.20);

Davi não era bem quisto entre os seus irmãos e até pelo seu pai era desprezado (I Sm 16.11);

Jesus da mesma sorte, teve o seu ministério censurado por seus irmãos (Mc 3.21);

Jeremias prova a porção do desprezo não somente da sua própria família e amigos (Jr 12.6; 20.10), mas de seus vizinhos (Jr. 11.21); dos sacerdotes (Jr. 20.1-2); dos profetas (Jr. 28.10,11); do rei (Jr. 36.26) e todo o povo de Judá desprezavam a Jeremias (Jr. 26.8).

Jeremias 15:15-16
15 Tu, ó SENHOR, o sabes; lembra-te de mim, e visita-me, e vinga-me dos meus perseguidores; não me arrebates, por tua longanimidade; sabe que, por amor de ti, tenho sofrido afronta.
16 Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome me chamo, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. (ARC)

A duras penas, Jeremias exercia o seu ministério. Ele tinha ciência das afrontas que o feriam e machucavam a sua alma, porém mesmo diante de toda a repulsa daquele povo, o desapreço e a indiferença em relação a si mesmo, Jeremias possuía a companhia sempre presente do Senhor e a sua palavra produzia gozo e alegria em meio ao caos emocional.

2 – Jeremias lamenta sua condição

Repito aqui, aquilo que disse o comentarista R.K. Harrison no livro sobre Jeremias da Série Cultura Bíblica: “Jeremias se destaca entre os profetas hebreus por causa da dimensão em que revelou seus sentimentos pessoais. Os outros faziam suas profecias sem dizer muito do que se passava dentro deles, mas Jeremias revela seu coração turbulento”.

O sofrimento de Jeremias é revelado em cada linha de sua mensagem. Ele pregava vislumbrando com olhos arregalados, o futuro sombrio que os aguardava. Ele pregava chorando pelo seu povo.

2 Timóteo 3:12
12 E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições. (ARC)

A sua diligência em seguir a Deus e anunciar a sua palavra sem adendos, lhe garantiu a perseguição dos opositores. Da mesma forma, nos dias de hoje, servir ao Senhor piedosamente, atentando para a sua palavra, também produzirá hostilidade e ataque contra as nossas vidas.

2.1 – Pare de reclamar e comece a viver

Desde sempre existe a incompreensão do justo em ver o injusto prosperar. Tal ignorância tem levado muitos ao desastre espiritual.

Jeremias 12:1
1 Justo serias, ó SENHOR, ainda que eu entrasse contigo num pleito; contudo, falarei contigo dos teus juízos. Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que cometem o mal aleivosamente? (ARC)

Warren Wiersbe comenta que Jeremias não conseguia entender por que um Deus santo permitia que falsos profetas e sacerdotes infiéis prosperassem em seus ministérios, enquanto ele, um fiel servo do Senhor, era tratado como se fosse um cordeiro sacrificial.
Ele ainda afirma que tomando por base a aliança, teólogos judeus ensinavam que Deus abençoa aqueles que obedecem e castiga aqueles que desobedecem, porém, a situação, na vida real, parecia ser justamente o contrário! Como poderia um Deus de amor permitir que algo assim acontecesse?

A pergunta reside no fato de o porquê o justo não alcançar a mesma prosperidade daquele que vive em transgressão. Jeremias enfrentava uma crise teológica. Tal pergunta é frequente nas Escrituras. Jó também se inquietou com o assunto (Jó 21); outros profetas lutaram contra o mesmo problema (Hc 1; Ml 2.17; 3.15); os salmistas buscaram compreender (Sl 37; 49; 73). E tal indagação ainda é feita nos dias de hoje. Quem não a fez?

Salmos 73:17
17 até que entrei no santuário de Deus; então, entendi eu o fim deles. (ARC)

A compreensão só vem, quando o servo do Senhor decide entrar em Sua presença e então é esclarecido o fim daqueles que hoje prosperam mesmo vivendo uma vida distante de Deus (Sl 73.18-20).

Para Jeremias, Deus não lhe oferece uma resposta quanto a este assunto, ao contrário, a ele, o Senhor revela que a sua fé ainda seria atacada com muito mais vigor do que a mera comparação da prosperidade dos homens maus.

Jeremias 12:5
5 Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com cavalos? Se tão somente numa terra de paz estás confiado, que farás na enchente do Jordão? (ARC)

Wiersbe afirma que tal resposta dada a Jeremias nos revela três grandes verdades:

1. A vida de serviço piedoso não é fácil
Seria como participar de uma longa maratona (Paulo utilizou uma ilustração semelhante em Fp 3.12-14). Jeremias teria uma vida mais facilitada e segura se tivesse seguido a carreira de sacerdote, mas a vida de profeta (escolha de Deus), era justamente o contrário. Era como um homem participando de uma corrida e tendo dificuldades em prosseguir.

2. A vida de serviço piedoso torna-se cada vez mais difícil
Deus usa ilustração de que Jeremias naquele momento estava correndo com soldados que estavam a pé, mas que conseguia acompanhá-los, mas logo estaria correndo com cavalos. Apesar de suas provações, até então havia vivido em uma terra de paz. Porém, logo se encontraria nas densas florestas do rio Jordão, onde rondavam animais selvagens. Seu coração estava partido por causa dos ataques de pessoas estranhas, porém logo sua própria família começaria a opor-se a ele.

3. A vida de serviço piedoso fica melhor a medida que amadurecemos
Cada novo desafio (cavalos, florestas, oposição dos parentes) ajudou Jeremias a desenvolver sua fé e suas aptidões no ministério. No fim das contas, a vida fácil é, na verdade, a mais difícil, pois impede o amadurecimento. A vida difícil, porém, nos desafia a desenvolver nossos “músculos espirituais” e a realizar mais coisas para o Senhor.

Há muitos anos atrás, conversava com um pastor que passava por dificuldades. Ante as suas inquietações e uma avalanche de questionamentos, lembro-me de ter dito a ele: “Pastor, fomos chamados para o sofrimento”.

Em II Co 11.23-33, o apóstolo Paulo enumera as tantas vezes que experimentara ultrajes, decepções, perigos, necessidades e sofrimentos em geral, por anunciar a bendita Palavra de Deus. Note que mesmo tendo em seu currículo uma lista de intempéries que faria a maioria de nós desistir, Paulo permaneceu firme na designação dada por Deus a ele e o seu relato não contém nenhum teor amargo. Este apóstolo perseverou em desempenhar a obra do Senhor com afinco até o último suspiro e mesmo trazendo as cicatrizes do seu ministério no próprio corpo (Gl 6.17), ele termina classificando essa obra como Bom Combate.

2 Timóteo 4:7
7 Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. (ARC)

2.2 – Como evitar conflitos existenciais

Segundo o que encontramos na Wikipédia, Crise Existencial é um momento no qual um indivíduo questiona os próprios fundamentos de sua vida: se esta vida possui algum sentido, propósito ou valor. Esta questão sobre o sentido e propósito da existência é o tema da escola filosófica do existencialismo.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_existencial

Alguém já chegou a dizer: “Quem nunca viveu uma crise existencial, talvez ainda não tenha vivido de fato”.

Jeremias 15:17-18
17 Nunca me assentei no congresso dos zombadores, nem me regozijei; por causa da tua mão, me assentei solitário, pois me encheste de indignação.
18 Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói, não admite cura? Serias tu para mim como ilusório ribeiro e como águas inconstantes? (ARC)

Jonas Bilú em seu artigo sobre o assunto afirma que as crises existenciais normalmente são acompanhadas de sinais e sintomas psicológicos e somáticos como ansiedade, desânimo e cansaço mental, dificuldade de concentração e esquecimento, tendência ao isolamento tanto social quanto familiar, apatia, desambição, falta de motivação, sentimento de receio, incerteza, desespero e vazio, pessimismo, ideias de culpa, baixa autoestima. Elas podem evoluir para um transtorno depressivo ou outros transtornos do humor(Grifo meu).
http://webartigos.com/artigos/o-que-e-crise-existencial-alguem-pode-me-dizer/130696

Jeremias, não optou por viver só, mas a sociedade judaica o expeliu do seu convívio por causa da sua mensagem. O próprio Deus o proibiu de constituir família (Jr 16. 1-4). Jeremias passou a viver isoladamente. Uma vez só, o profeta então, “grita” por não suportar a própria existência.

A promessa de Deus de que a sua fé seria testada ainda com mais intensidade, está agora em operação (Jr 12.5) e Jeremias se encontra amargurado.

Marson Guedes, em seu livro “Caminhos de Jeremias” diz que o clamor do profeta é real, permanente, grave e incurável (Jr 15.18).

A crise existencial muitas vezes nos arrasta para um vale onde deixamos de lado a nossa teologia e aquilo que é racional. As emoções e sentimentos passam a ditar o ritmo do que acreditamos e confiamos. Isso é perigoso.

Diante da vergonha, o profeta expõe seus sentimentos junto aquele que o chamou para a obra. Trata-se do mais amargo lamento que Jeremias dirige a Deus.

Jeremias 20:7
Iludiste-me, ó SENHOR, e iludido fiquei; mais forte foste do que eu e prevaleceste; sirvo de escárnio todo o dia; cada um deles zomba de mim. (ARC)

Jeremias 20:14-18
14 Maldito o dia em que nasci; o dia em que minha mãe me deu à luz não seja bendito.
15 Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso grandemente.
16 E seja esse homem como as cidades que o SENHOR destruiu sem que se arrependesse; e ouça ele clamor pela manhã e, ao tempo do meio-dia, um alarido.
17 Por que não me matou desde a madre? Ou minha mãe não foi minha sepultura? Ou não ficou grávida perpetuamente?
18 Por que saí da madre para ver trabalho e tristeza e para que se consumam os meus dias na confusão? (ARC)

A tradução NVI em Jr 20.7, utiliza a palavra “Enganaste-me” em lugar da palavra “Iludiste-me”. O verbo aqui pode ser traduzido por “Seduzir”. Jeremias, derrama a sua alma nessa queixa e acusa a Deus de tê-lo seduzido.

Não tem como “amaciarmos” o texto a fim de tornar as palavras de Jeremias mais brandas. Trata-se de uma acusação direta e simples – “Deus me Enganou!”. Como entender uma acusação tão grave contra o Criador?
Deus não ficou indignado com Jeremias ou mesmo se sentiu desrespeitado pelo profeta. Deus conhece muito bem as pressões que são submetidos os seus servos em sua obra e o amor que os mesmos têm por ela. Mais que isso, No caso de Jeremias, Deus era a raiz das dores suportadas pelo profeta.

Warren Wiersbe afirma que Jeremias sentiu como se Deus tivesse se aproveitado dele, instigando-o a aceitar o ministério. “Mais forte foste do que eu e prevaleceste” (Jr 20:7). Jeremias sentiu-se como uma donzela indefesa seduzida por um “amante” enganador, que depois havia se aproveitado dela. O profeta usou uma linguagem forte, mas o fez numa conversa particular com Deus, não em público dizendo isso a outras pessoas.

O que você faz depois de dizer a Deus como se sente? Jeremias resolveu deixar de ser profeta! Decidiu calar-se e nunca mais mencionar o nome do Senhor para pessoa alguma. Mas isso não funcionou, pois, a mensagem de Deus era como um fogo ardendo no coração e nos ossos do profeta (ver Lc 24:32). Jeremias não pregou porque precisava dizer alguma coisa, mas porque tinha algo a dizer; calar-se o teria destruído. Paulo teve a mesma atitude: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” (1 Co 9:16).

Jeremias estava aprendendo a lidar com suas questões interiores e assim levando-as ao cativeiro de Deus.

2.3 – Uma questão de confiança

R.K Harrison comenta que Jeremias profetizou em uma época em que a opinião popular exigia que as predições se cumprissem em um prazo relativamente curto; senão seriam falsas. Como as profecias permaneceram por tanto tempo sem se cumprir, o povo somente ria dele cada vez que ele falava do futuro. Para uma pessoa sensível, isto era especialmente embaraçoso e ofensivo.

Jeremias 20:8
8 Porque, desde que falo, grito e clamo: Violência e destruição! Porque se tornou a palavra do SENHOR um opróbrio para mim e um ludíbrio todo o dia. (ARC)

Como a sua mensagem não lograva o êxito esperado, Jeremias se sentia um verdadeiro fracasso humano.
Mesmo que seus sentimentos o conduzisse por uma “montanha russa” de emoções, ora embaraçado nos seus queixumes, ora intrépido na adoração a Deus, o profeta consegue arrancar do fundo de sua alma, aquilo que o motivava de fato a perseverar em sua jornada – A confiança no Senhor.

Jeremias 20:11
11 Mas o SENHOR está comigo como um valente terrível; por isso, tropeçarão os meus perseguidores e não prevalecerão; ficarão mui confundidos; como não se houveram prudentemente, terão uma confusão perpétua, que nunca se esquecerá. (ARC)

Norman Champlin afirma que Jeremias seria invencível enquanto estivesse ocupado em sua missão divina. Os inimigos do profeta certamente sairiam envergonhados daquela luta; certamente fracassariam; e a desonra deles perduraria para sempre. O poderoso Guerreiro, Yahweh, o Senhor dos Exércitos (vs. 12) estava ao lado de Jeremias, garantindo o sucesso de sua missão e livrando-o de todos os perigos, afinal, a despeito das muitas conspirações contra a sua vida, este versículo com Jer. 15.20, que encerra, essencialmente, a mesma mensagem, de Jer. 1.18-19, que tem as promessas de bom êxito e proteção que Jeremias recebeu ao ser comissionado, A divina presença prometera estar com ele, fazendo-o atravessar com sucesso sua árdua e perigosa tarefa. Cf. Mat. 28.20: “Eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.

3 – VALE A PENA CONFIAR EM DEUS

Nossa confiança em Deus é constantemente posta à prova, especialmente nos momentos mais agudos da vida.

Jeremias 17:5-8
5 Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!
6 Porque será como a tamargueira no deserto e não sentirá quando vem o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.
Bendito o varão que confia no SENHOR, e cuja esperança é o SENHOR.
8 Porque ele será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se afadiga nem deixa de dar fruto. (ARC).

O homem dos versículos 5 e 6 é o contraste do homem dos versículos 7 e 8.
Judá e sua liderança estavam propensos a confiar em seus aliados políticos e se apoiarem em braços humanos do que depender do poder de Deus.

Wiersbe afirma que a fim de enfatizar a diferença entre o homem que confia no homem e aquele que confia no Senhor, Jeremias apresentou um contraste entre um arbusto do deserto e uma árvore frutífera junto às águas (ver Sl 1:3, 4). A incredulidade transforma a vida numa terra seca e improdutiva, enquanto a fé a transforma num pomar frutuoso. (Grifo meu).

3.1 – O legado de Jeremias

A palavra legado é oriunda do latim “legatus” ou “legatum” e quer dizer uma disposição feita em um testamento para benefício de outra pessoa, é deixar algo, de valor ou não, para outra pessoa.
Outro dicionário ainda afirma que legado é algo transmitido ou adquirido, mas não necessariamente  como herança; é algo deixado para um todo e não só para um. Ainda pode ser aquilo que é passado para as gerações que se seguem. (Grifo meu).

Em Hebreus 11 temos o registro da relação do legado deixado por diversos homens que em suas histórias transmitiram valores importantes para aqueles que desejam ter uma vida profícua com Deus mediante a fé.
No entanto, apesar de terem testemunhos poderosos, a Bíblia não omite os registros de suas falhas. O pastor Clementino de Oliveira Barbosa, expõe os pecados de alguns desses heróis:

     1 – Abraão mentiu;
     2 – Isaque da mesma forma, também mentiu;
     3 – Jacó enganou;
     4 – Moisés matou;
     5 – Davi adulterou;
     6 – Salomão caiu na idolatria;
     7 – Pedro blasfemou;

Jeremias, deixou-nos um legado de profundo amor, manifesto pelos sucessivos momentos que o mesmo era pego em prantos pelo seu povo.

Wiersbe relata: “Nos dias de hoje, é raro encontrar lágrimas tanto no púlpito quanto nos bancos da igreja; a ênfase parece estar no prazer. Em vez de evangelistas e de pregadores, a igreja agora tem “comediantes religiosos” que parecem nunca ter lido Tiago 4:9,10: “Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará”.
Vance Havner estava certo quando disse: “Nunca houve na história tanto humor vulgar com tão pouco motivo para ser engraçado”.”.

Mesmo imerso as lágrimas pelo seu povo, Jeremias permanecia nos trilhos postos por Deus para o cumprimento dos seus propósitos. As terríveis consequências não eram mais importantes do que satisfazer a vontade Daquele que o vocacionou.

3.2 – Crescimento na mudança

Junto com o crescimento deve vir a maturidade. Não é natural crescer e não amadurecer.

Jeremias foi chamado para cumprir a sua vocação profética ainda na tenra idade (por volta dos seus 20 anos). Ele se considerava uma criança (Jr 1.6), inapta e ainda julgava a tarefa demasiadamente pesada para o exercício.

O início do seu ministério não foi suave ou ameno, antes intenso e vigoroso, causando nele, impressões violentas na alma. Jeremias não possuía malícias, mas foi enviado a falar a um povo de coração ardiloso que lhe desejava o mal; tinham inclusive, a sua vida espreitada para ser tirada (Jr 11.19).

Jeremias parecia inocente, mas as circunstâncias fervescentes o fizeram amadurecer e assim compreender que sua confiança deveria estar depositada somente em Deus; e que até a sua família era para ele uma ameaça.

Jeremias 12:6
6 Porque até os teus irmãos e a casa de teu pai, eles próprios se hão deslealmente contigo; eles mesmos clamam após ti em altas vozes. Não te fies neles ainda que te digam coisas boas. (ARC)

Da mesma forma, o cristão necessariamente precisa crescer para não se achar atrofiado na casa de Deus.

O crescimento do ser humano possui três aspectos: Físico, emocional ou mental/intelectual e espiritual.
As três facetas do crescimento humano estão intimamente relacionadas a sua tríplice formação (corpo, alma e espírito). A teologia denomina essa formação de tricotomia. Desta forma, o crescimento seria:

     1. Aspecto físico – CORPO;
     2. Aspecto emocional ou mental intelectual – ALMA;
     3. Aspecto espiritual – ESPÍRITO;

O desejo de Deus é que o homem se desenvolva intelectualmente, fisicamente e principalmente espiritualmente.

Jeremias 17:7,8
7 Bendito o varão que confia no SENHOR, e cuja esperança é o SENHOR.
8 Porque ele será como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se afadiga nem deixa de dar fruto. (ARC).

Quanto o crescimento no aspecto espiritual, a faceta da confiança em Deus se destaca no texto que estamos a estudar. Pois tal confiança nos associa a bem-aventurança e nos compara a um arbusto verdejante, frondoso e frutífero mesmo em tempos áridos. Confiar em Deus é ter sempre a “seiva” do Espírito Santo correndo pelos “sulcos” de nossa vida espiritual.

3.3 – Um profeta dependente de Deus

Segundo o pastor Claudionor de Andrade, desta vez, os caldeus não se limitariam a levar os judeus em cativeiro, mas haveriam de destruir tudo; da mais singela cidade à imponente Jerusalém, tudo deitariam por terra. Até o Santo Templo, onde se achava a arca sagrada, pereceria. Os judeus seriam de tal forma provados que o profeta chama este período de a “Angústia de Jacó” (Jr 30.7).

Estudiosos da Bíblia geralmente chamam os capítulos 30 a 33 de Jeremias como: “Livro da Consolação”.

Jeremias 29:11
11 Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais. (ARC)

Não obstante a toda a manobra dos Babilônicos contra Judá que ganhava contornos cada vez mais fortes no horizonte, Jeremias encontra forças para ter esperanças. Deus passa a lhe mostrar que no porvir, olharia de forma favorável para Israel, trazendo-os novamente para a sua terra e os restabelecendo como nação.

Não bastava uma palavra profética acerca da restauração do povo a sua terra, desta forma, Deus convoca Jeremias a trazer um sermão prático.

Wiersbe afirma que ao comprar uma propriedade no momento mais desfavorável em Judá, Jeremias conseguiu chamar a atenção do povo e pôde proclamar as promessas maravilhosas de Deus. O profeta teve de mostrar sua fé com ações (Tg 2.26), e Deus o abençoou por isso (Jr 32.6-9).

Jeremias 29:10
10 Porque assim diz o SENHOR: Certamente que, passados setenta anos na Babilônia, vos visitarei e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando-vos a trazer a este lugar. (ARC)

O ato realizado por Jeremias confirmaria as palavras de que Judá, após um período de 70 anos, retornaria para a sua terra novamente.

Somente alguém com tamanha convicção em Deus, poderia ser capaz de adquirir uma propriedade em um lugar que estava fadado a destruição e a ser conquistado por outra nação. Jeremias o fez por fé e por se submeter de coração a vontade Divina.

CONCLUSÃO

Como Jeremias, cada um de nós temos uma vocação e ainda que no exercício da mesma, venhamos enfrentar reveses, não sermos compreendidos, termos amigos sendo feitos inimigos, padecermos perseguição, ainda assim devemos continuar tendo firme convicção na transmissão da mensagem de Deus, confiando no seu cuidado e na sua proteção.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Bíblia Eletrônica Olive Tree – Versão Revista e Corrigida / Revista e Atualizada;
Dicionário da língua portuguesa;
Bíblia de Estudo Matthew Henry – Versão Revista e Corrigida – Central Gospel;
E a vara de Arão floresceu… – Levy Ferreira de Souza – Produção Independente (Gráfica Santa Teresinha);
Comentário Jeremias e Lamentações – Série Cultura Bíblica – R.K. Harrison – Editora Vida Nova;
Comentário Bíblico Expositivo Warren Wiersbe – Editora Central Gospel;
O Caminho de Jeremias – Marson Guedes – Editora Mundo Cristão;
Revista EBD – 2º Trimestre 2010 – Lição 1 – Claudionor de Andrade – CPAD;
Site da internet quando citado;

Por: Cláudio Roberto

Postado por ebd-comentada


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