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10/12/2020
Este post é assinado por Leonardo Novais de Oliveira
“Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados.” Hebreus 12.12
HEBREUS 12.13-17
13 E fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado.
14 Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,
15 Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem.
16 E ninguém seja fornicador, ou profano, como Esaú, que, por um manjar, vendeu o seu direito de primogenitura.
17 Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas, o buscou.
Olá irmãos e irmãs, Paz do Senhor.
Os problemas da alma são de ordem intrigante e complexa.
A complexidade destes problemas fazem com que sintamos uma necessidade real de ter paz e um dos grandes diferenciais entre nós e os outros animais é a capacidade de raciocinar, buscar e descobrir as saídas para nossos dilemas e problemas.
As partes intangíveis que compõe os seres humanos fazem com que nos destaquemos em relação a todos as outras criaturas de Deus.
O ser humano é o único que possui espírito e é este que proporciona experiências riquíssimas quando associado à alma.
Através do espírito, conseguimos ter uma percepção real do que acontece conosco, podemos buscar conhecimento para resolver nossos dilemas, porém, em contrapartida, sofremos muito, pois nem sempre é fácil encontrar saídas racionais para os problemas emocionais e, é exatamente aí, que muitos entram em colapso.
Temos a percepção de que o problema existe e que precisamos buscar uma resposta e isto é muito mais do que o instinto que os outros animais possuem.
Pelo fato de compreendermos que as emoções existem e nos afetam como um todo, precisamos aprender a conviver com as diferenças e a resolver as situações que saem do controle, pois, se não o fizermos, seremos profundamente impactados.
Sabemos que emoções não são sentimentos, mas sim, comportamentos e, de acordo com a forma com que administramos estas emoções, aumentaremos ou diminuiremos nossos problemas.
Esta lição abordará o tema ressentimento e, de acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, os significados desta palavra são:
Na língua portuguesa, o prefixo “re” indica o retorno da mágoa, a reiteração de um sentimento.
O primeiro conceito está muito relacionado com o que o autor se propôs a explicar, pois, de acordo com a psicanalista Maria Rita Kehl: “O ressentido não é alguém incapaz de esquecer ou perdoar; é alguém que não quer esquecer, não quer superar o mal que o vitima”.
Pelo fato de nos relacionarmos de forma próxima com parentes, amigos e colegas, sentimos as diferenças existentes entre nós, pois cada pessoa possui um caráter e uma personalidade e, logo, um comportamento.
Existem pessoas que nos magoam profundamente, mas também podemos magoá-las da mesma forma, pois também somos falhos.
Quando somos afetados por algum comportamento e não conseguimos resolver a situação, trazemos em nós o peso das emoções.
Traições, ingratidão, desobediência, perseguições e outras situações são comuns na vida dos seres humanos, desde o pecado original de Adão e Eva.
Diferentemente do altruísmo; que deseja o bem do próximo, o hedonismo deseja exclusivamente o bem e o próprio prazer.
O ressentimento provoca “indas e vindas” de todas as emoções que foram evidenciadas quando sofremos por algum motivo.
Como a pessoa ressentida não quer perdoar e esquecer, fica trazendo à memória continuamente o que a fez sofrer.
A Bíblia nos mostra a história de Jeremias, conhecido como o “profeta das lágrimas”, pois teve uma vida miseravelmente sofrida, chegando a culpar o Senhor por todos os seus desmazelos.
O Senhor o havia chamado ainda novo (Jr 1), porém ele profetizou durante muitos anos e, ainda que suas profecias fossem realmente a voz de Deus para o povo, não houve reconhecimento e arrependimento.
Jeremias viu sua cidade e o templo do Senhor serem destruídos, bem como seus irmãos serem levados como escravos para a Babilônia.
O Senhor o privou de desfrutar dos bens do casamento, seus familiares o abandonaram, foi perseguido, maltratado, preso e tudo isto fez com que ele ficasse completamente frustrado.
“Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do seu furor. Ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz. Deveras se tornou contra mim; virou contra mim de contínuo, a mão todo o dia. Fez envelhecer a minha carne e a minha pele, quebrantou os meus ossos”. (Lm 3.1-4 – ARC)
Mas, após reconhecer que estava errado quando a isto, escreve um texto que expressa exatamente o que precisamos fazer no tocante às nossas emoções.
“Disso me recordarei no meu coração; por isso, tenho esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim”. (Lm 3.21,22 – ARC)
Jeremias descobriu que o fato do Senhor tê-lo feito passar por todos os problemas e situações desagradáveis, Ele sempre o guardou e o ajudou e, em tempo, este profeta conseguiu reconciliar-se com o Senhor e viver em paz.
Da mesma forma que Jeremias se apercebeu do grande erro que estava cometendo para com o Senhor, nós precisamos observar nossa reação diante das aflições causadas por terceiros e trazer à nossa memória, somente aquilo que nos trouxer esperança.
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Kehl escreve que “O ressentimento na sociedade brasileira está enraizado em nossa dificuldade em nos reconhecermos como agentes da vida social, sujeitos da nossa história, responsáveis coletivamente pela resolução dos problemas que nos afligem”.
Se somos responsáveis pela resolução dos problemas que nos afligem, podemos voltar ao conceito promulgado pelo Dr. Daniel Goleman sobre a Inteligência Emocional.
Goleman descreve a inteligência emocional como a capacidade de uma pessoa de gerenciar seus sentimentos, de modo que eles sejam expressos de maneira apropriada e eficaz. Segundo o psicólogo, o controle das emoções é essencial para o desenvolvimento da inteligência de um indivíduo.
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche diz que o ressentimento é uma vingança adiada; você quer se vingar, mas não tem coragem, não chegou a hora, não sabe o que fazer. Ressentir-se significa, então, atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. E ao não assumir a responsabilidade sobre a própria situação, o ressentido busca apenas uma vingança imaginária e adiada.
A Bíblia nos mostra a história de Caim, o primeiro ser humano afetado pela mágoa e pelo ressentimento.
“E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou”. (Gn 4.4-8 – ARC)
A ira é um dos piores reflexos do ressentimento e, neste caso, foi tão marcante que provocou um assassinato em família.
O pastor Isaqueu Mendes de Freitas menciona a relação entre Esaú e Jacó e os problemas que surgiram devido aos ressentimentos causados pela falta de caráter dos dois.
Esaú havia desprezado sua primogenitura, porém, ao ver seu pai abençoando seu irmão Jacó em seu lugar; por causa dela, deixou que um sentimento terrível lhe cegasse a ponto de desejar matar o próprio irmão.
“E disse Esaú a Jacó: Deixa-me, peço-te, comer desse guisado vermelho, porque estou cansado. Por isso, se chamou o seu nome Edom. Então, disse Jacó: Vende-me, hoje, a tua primogenitura. E disse Esaú: Eis que estou a ponto de morrer, e para que me servirá logo a primogenitura? Então, disse Jacó: Jura-me hoje. E jurou-lhe e vendeu a sua primogenitura a Jacó”. (Gn 25.30-33 – ARC)
“E aborreceu Esaú a Jacó por causa daquela bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto de meu pai; então, matarei a Jacó, meu irmão”. (Gn 27.41 – ARC)
Estes são dois casos bíblicos que nos mostram o perigo do ressentimento e o mal que pode causar aos relacionamentos.
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Pelo fato de muitos não abrirem mão da razão, ou seja, do direito de estar certo, o ressentimento não deixa a alegria e a paz existirem em plenitude na vida destas pessoas.
A carta aos Hebreus nos fala sobre a raiz de amargura, que prejudica inúmeras pessoas e não deve ser cultivada na vida do cristão.
“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem”. (Hb 12.14,15 – ARC)
A proposta e conselho bíblico é para não sermos abalados com o comportamento das pessoas, incluindo os (as) irmãos (ãs), pois são falhos como nós e, além disto, continuarmos nossa trajetória neste mundo, não deixando que situações desagradáveis nos contaminem a ponto de criarem em nós um tipo de raiz que nos acorrente no conhecido ressentimento e não nos deixe crescer espiritualmente.
O contexto deste capítulo aborda a questão da carreira do crente, rodeada muitas vezes, por situações desagradáveis que existem desde o pecado e continuarão a existir, porém, o conselho bíblico é que nos lembremos dos sofrimentos que Jesus vivenciou e do comportamento que Ele teve para com os mesmos e, além, disto, tomemos Seu exemplo de perfeição para que, quando sofrermos nesta vida em detrimento de qualquer tipo de situação, tenhamos o mesmo sentimento que o Mestre teve.
“…olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos”. (Hb 12.2,3 – ARC)
O teólogo alemão Fritz Laubach nos traz uma compreensão interessante sobre este texto.
“Na condução da luta, toda guerra requer uma tática correspondente às condições reais. A luta espiritual da fé requer o enquadramento nas regras da luta espiritual. Aquilo a que o apóstolo Paulo alude com as palavras: “As armas da nossa milícia não são carnais” (2Co 10.4), é melhor explicado em 2Tm 2.5: “O atleta que toma parte numa corrida não recebe o prêmio se não obedecer às regras da competição” (BLH). O presente versículo contém regras decisivas para a luta da fé: olhar firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus. Uma tradução exata deveria ser: “Tirar o olhar” – em direção a Jesus. Devemos desviar nossa visão da tribulação e do pecado, fixando o olhar da fé em Cristo. Na vida espiritual vale a lei: o que miramos ganha poder sobre nós. Quando nos deixamos aprisionar pelas preocupações e dificuldades do cotidiano, nossa vida de fé perderá a alegria. O olhar para as ondas fez com que Pedro desanimasse e afundasse (Mt 14.30). Levantar os olhos para Jesus significa contar com a realidade do Deus invisível, olhar para o Invisível. Sem dúvida, a ação prática do cristão também faz parte disto: “fixar o olhar em Cristo” com certeza não significa que fiquemos por longo tempo olhando para uma cruz de madeira ou metal, que está posta sobre um altar ou pendurada na parede de uma casa de oração. Tampouco significa que nos aprofundemos contemplativamente na pintura de Cristo de uma artista famoso. Ambas as coisas certamente poderão ser um auxílio para a meditação. Em contrapartida, podemos repetidamente “olhar para Cristo” ao lermos a Bíblia com devoção, e do mesmo modo na comunhão com outros cristãos, quando escutamos conjuntamente a palavra de Deus proclamada e nos encontramos com os membros da igreja para a oração. Afinal, não estamos lidando com um Senhor ausente, ou até com alguém há muito falecido”.
Evangelista Leonardo Novais de Oliveira
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